quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Nós e o espelho

A garota puxava o cabelo daqui, puxava dali, e, num certo momento, suspirou:

– Arre, às vezes tenho vontade de quebrar o espelho – disse, em desconsolo.

Ouvi a frase e não disse nada, inferi que ela queria dizer que não estava gostando do que via. A frase da garota fez-me lembrar de um velho princípio do roteiro da felicidade. Diz assim esse princípio: “Para elevar a autoestima é preciso gostar da imagem refletida no espelho”.

Engraçado, as garotas fazem esse tipo de frase desgostosas de suas imagens; os homens, não. E se eles fazem, fazem em voz baixa, para dentro. Talvez escorados no fato de que muitas mulheres, porque não se respeitam, aceitam qualquer bermudão que lhes dê bola...

Mas não é exatamente disso, de espelhos, que quero falar. Aliás, já disse aqui, à exaustão, que quando a pessoa se gosta não há espelho que a faça feia. Do mesmo modo que quando o sujeito anda de pé trocado na vida, não há espelho que o faça bonito. A moeda, portanto, vale para eles e elas.

Também é engraçado que nos preocupemos com a imagem no espelho e não cuidemos, com o mesmo afinco, ou raiva, da imagem interior, da que nos faz excelsos num trabalho, admirados no caráter, cortejados nas mesuras, competentes, enfim, nos verdadeiros e significativos valores da vida.

A moça que se queixava do espelho, não me é prudente dizer onde foi que isso aconteceu, não se dá conta de que o cabelo rebelde de fato lhe pode ser uma encrenca, mas não há de ser o cabelo que a vai fazer feliz ou infeliz na vida. Não são os nossos cabelos, sapatos, camisas, blusas, desenho do rosto, ou o que for, que nos fazem felizes e seguros na vida.

Que coisa triste ter que viver dizendo isso, que tristeza. Mas as pessoas insistem em correr atrás do vento, esquecem que podem ser muito bonitas... por dentro. E dessa beleza resulta uma vistosa luz externa. Os que têm olhos de ver, a veem. Os idiotas das externidades não enxergam isso. Todos podemos ser muito bonitos, sem espelhos, e, aliás, nem vamos precisar deles. Bastam as retidões do caráter e as boas competências no trabalho. As competências de um jovem, por exemplo, são as competências das matérias a estudar. Quem as estudar e as souber será bonito, bonita.

E como são burras as pessoas, na grande regra. Elas não consideram essa beleza das essências, ficam presas ao espelho. E os espelhos nos enganam, mostram desenhos, mas não mostram essências. E a felicidade nunca foi um desenho, sempre foi uma essência. Será que a garota, aquela, já deu um jeito no cabelo?


Todos os creditos ao excelente colunista e apresentador Luiz Carlos Prates da RBS TV (afiliada da Rede Globo em Santa Catarina).

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